quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Anjo - Por Hellena Vieira


Anjo
por Hellena Vieira
well_550566@yahoo.com.br
Dedicado para Adriano Siqueira

Ela estava com medo, eu podia ver isso nos seus olhos pequenos quando me aproximei.
Agora eu via que a igreja havia enlouquecido, a pele alva dela estava quase totalmente marcada de cruzes e chibatadas.
Levantei minha mão e ela se encolheu, os cabelos loiros claríssimos caíram sobre o rosto e eu só pude ver os olhos verdes miúdos cheios de lágrimas rubras.
Então eu percebi, ela era um demônio, mas mesmo assim eu não podia deixar de admirá-la.
Num impulso, tirei uma chave do bolso da batina e comecei a abrir as fechaduras dos braceletes de ferro que a prendiam à parede.
Ela me olhou assustada, seu olhar felino me encantou. Comecei a soltar seus pés também, logo o bispo viria, eu tinha que ser rápido.
--Você não veio me castigar? —Falou a moça com voz fraca.
--Não minha criança, você não merece nada disso... Tem que ir embora.
Libertei seus pés, tirei minha capa e cobri seu corpo nu com ela. Mas já era tarde, o bispo e mais alguns padres entraram com estacas, água benta e chicotes. Um deles trazia uma arma, o bispo acenou negativamente a cabeça e me disse.
--Ah Adriano, você podia ser grande, poderia até chegar a ser bispo. Não se iluda com essa pestezinha do demônio, deixe-a conosco, volte ao seu quarto e tudo será esquecido...
--Não! Ela não merece tudo isso e o senhor sabe, por que não a liberta?
--Libertá-la Adriano, você perdeu a razão? E o que diríamos ao mundo, que existem vampiros entre nós e que todos os dias o número deles aumenta? Como ficaria a moral da igreja, e nossos fieis, temos que pensar neles também. Ela é só mais uma Adriano, morrerá para o bem de todos.
Um padre se adiantou até mim e eu pulei em cima dele, o bispo olhou triste para o chão e disse atirando.--Você poderia ser grande Adriano, poderia fazer grandes coisas...
Meu peito doeu e eu caí pesadamente no chão, o sangue se espalhou molhando as pedras frias, eu também tive frio, tudo pareceu ficar distante.
De repente, como um sopro de vida eu vi os cabelos loiros da moça passarem rápidos por mim.O bispo atirou mais sete vezes, de nada adiantou, ela estava fortalecida por meu sangue, agora ela queria o deles também.
Matou-os um a um, deixando o bispo por ultimo, queria que ele pagasse por tudo que lhe fizera.Enquanto destroçava seu pescoço lentamente ela sorriu para mim, mas eu não pude sorrir de volta, a dor em meu peito aumentou e eu senti minha alma se libertar de meu corpo.
Acordei nos braços dela, que pulava de prédio em prédio com facilidade.Ela sorriu mostrando os dentes brancos.Eu agora estava a salvo, não era mais padre, era um homem livre e ela não era mais um demônio, era meu anjo...
Adormeci em seus braços, consciente de minha recém adquirida imortalidade...

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